Era uma manhã de uma sexta-feira ensolarada, com poucas nuvens no céu. O vento batia e urrava nas janelas do meu escritório de investigação, que ficava no segundo andar de um prédio tradicional do centro da cidade de Londres.
Como de costume, eu passava o olho pelo jornal matinal para me manter atualizada sobre os acontecimentos da cidade, porém a única coisa em que eu conseguia pensar naquele momento era na maldita matéria da segunda página, onde mais uma vez aquele jornalzinho sensacionalista me acusava de atividades ilegais, tentando de qualquer jeito destruir a reputação que levou anos para adquirir. Eles não fazem ideia o quão difícil é se dar bem naquele tipo de trabalho, principalmente porque há investigadores particulares em cada canto dessa cidade.
Eu inconscientemente cerrei meus punhos e descontei a raiva que sentia, batendo com força na minha mesa. O estrondo da mesa ocultou o rangido da porta que naquele momento estava sendo aberta. E eu só percebi a presença de Ethan, meu assistente, quando ele deu pequenas batidas na porta. Apenas metade do seu corpo estava visível, mas eu conseguia ver o pequeno sorriso em seu rosto.
- Então, pelo jeito... você já leu o jornal de hoje.
Estava tão possessa que nem respondi Ethan, me limitando a encará-lo enquanto franzia as sobrancelhas, deu para perceber o Ethan se encolhendo atrás da porta, percebendo que foi uma péssima hora para fazer uma brincadeira.
Ele prontamente se recompôs e me avisou que a Senhora Bennett, estava aguardando para ser atendida.
Levei as mãos à cabeça, sem acreditar no que acabara de ouvir.
- O que diabos ela perdeu dessa vez? - sussurrei para Ethan, que deu uma leve risada fazendo um gesto com a mão, demonstrando que não tinha ideia do que era.
Pedi para que ele a deixasse entrar logo, eu não tinha tempo para perder com a Senhora Bennett de novo, desde que ela ficara viúva, ela virou uma cliente recorrente aqui. Às vezes eu pensava que ela perdia as coisas de propósito, só para ter motivo de vir aqui me contratar. Não que isso fosse uma coisa ruim, já que ela era sempre muito generosa com os pagamentos, uma vez que seu marido deixou-lhe uma boa fortuna de herança. O problema era que apesar do bom pagamento, aquilo me tomava muito tempo, tempo do qual eu com certeza não tinha naquele momento.
- Bom dia! Senhora Bennett, por favor, sente-se - falei calmante para ela, tentando não deixar transparecer minha impaciência.
- Como está a Senhora? - falei indo em direção a pequena mesa de canto onde estava a garrafa de uísque.
- Estou bem, mas minhas pernas estão me matando, eu não deveria ter andado tanto, procurando o Sr. Doyle. - falou ela vagarosamente.
Tomei uma longa golada de uísque e pensei comigo, e lá vamos nós outra vez.
- Sinto ouvir isso Sra. Bennett, eu já te falei que você não devia andar por aí sozinha, essa vizinhança não é segura para alguém com a sua idad... - pigarreei - ... saúde frágil.
- Eu sei, mas eu estava tão preocupada, que eu nem pensei na minha segurança.
Bufei e balancei a cabeça em desaprovação enquanto abria a pequena gaveta da minha mesa para pegar um bloco de notas, quanto mais cedo eu começasse a resolver seu caso, mais rápido eu estaria livre para continuar a investigar meu caso principal.
- Vamos começar Sra. Bennett? Qual foi a última vez que viu o Sr. Doyle?
- Sr. Doyle? Não se preocupe com ele está ótimo, ele passou a noite fora, mas hoje de manhã a hora que acordei ele já estava deitado nos pés da minha cama.
- Se não é para achar seu gato, porque a senhora está aqui? - perguntei impacientemente
- Eu vi a matéria no jornal, e resolvi vir aqui e ver como você estava.
Aquilo realmente me pegou de surpresa...
Cobri o rosto com minhas mãos, incrédula, e tentando esconder a vergonha que estava sentindo. Em seguida, respirei fundo e bufei, forçando um pequeno sorriso.
- Estou tentando ficar bem Sr. Bennett- falei chacoalhando o restante do uísque no fundo do copo.
- Não se preocupe Lisa, ninguém leva muito a sério esses tabloides - falou ela em uma voz reconfortante.
- Eles estão querendo me afundar, já faz quase uma semana desde que o último cliente apareceu aqui. E naquele tempo, as notícias ainda eram pequenas, agora eles têm até uma foto escura com uma silhueta que afirmam ser minha, negociando algum contrabando em um cais às margens do rio Tamisa.
- Daqui a uma semana, todo mundo já se esqueceu disso, minha querida.
- Assim eu espero, ou então, eu vou precisar pedir para alguém sequestrar o Sr. Doyle, para a senhora me contratar para resolver o caso. - falei tentando parecer séria.
A senhora Bennett caiu na risada e eu a acompanhei.
Poucos minutos depois o telefone tocou e logo vi a silhueta de Ethan do lado de fora da porta, ele nem bateu antes de entrar. Ele trazia notícias que nosso informante dentro da polícia vazara.
O açougueiro de Chinatown fizera mais uma vítima, eu precisava me apressar para chegar na cena do crime. Me despedi da Sra. Bennet e peguei minhas coisas e saí apressada do escritório, deixando a Sra. Bennett na companhia de Ethan.
Cruzei a praça de Soho e fui andando depressa até a Rua Oxford, o vento jogava meus cachos na frente do rosto e ameaçava jogar meu chapéu longe. Segurei-o o melhor que pude enquanto acenava para um táxi, que me levaria sem demora para a Catedral de São Paulo, onde o corpo da vítima fora encontrado.
A viagem durou pouco mais de dez minutos, ao chegar lá não foi difícil achar o local do crime, era só seguir em direção aos malditos jornalistas que se amontoavam na entrada de um beco a cerca de 200 metros dali, comecei a andar naquela direção e comecei a perceber cochichos a minha volta, algumas pessoas apontavam e falavam cobrindo a boca outras me olhavam com indignação. Eu simplesmente abaixei o chapéu e segui meu caminho ignorando aquelas pessoas, porém ao perceber minha presença ali os jornalistas logo se voltaram para mim e então começaram a fazer uma enxurrada de perguntas e acusações travestidas de perguntas.
Tive que abrir caminho à força através da parede de jornalistas que estavam me cercando, foi esse empurra-empurra até chegar na barreira policial que limitava o acesso ao beco.
- Detetive Elisabeth Parillaud - falei mostrando meu distintivo.
- esse distintivo não te dá direito de entrar aqui senhorita - falou o guarda barrando minha entrada.
- Fui chamada aqui novamente para ser apenas uma consultora, eu me lembro de você na outra cena do crime, e com certeza você se lembra de mim também, fale com a sargento Carter e avise que eu estou aqui. - Falei irritada.
- Lamento, mas eu não posso deixar alguém como você entrar em uma cena de crime.
- Alguém como eu? - gritei com ele, cerrando meus punhos - Olha aqui seu f...
Antes que eu pudesse descontar minha raiva naquele desgraçado, Macy grita lá de trás:
- Detetive Elisabeth, pode chegar até aqui! - falou ela com sua voz suave.
Encarei aquele maldito como se fosse voar no pescoço dele, porem não falei nada, não valia a pena perder tempo com aquele desgraçado.
Fui caminhando até a esquina do beco onde Macy me aguardava. A cada passo em direção a ela o cheiro de sangue e podridão ficava cada vez mais insuportável, meu estômago já estava começando a embrulhar, porém, Macy estava inabalável um coque atrás da cabeça que disfarçavam o volume dos seus longos cabelos loiros levemente cacheados.
- Você demorou Lisa, eu já estava começando a pensar que você seria a próxima vítima do assassino.
- Tive um pequeno contratempo com aqueles abutres.
Nesse momento uma voz grossa falou atrás de mim:
- não é atoa que eles estão tão eriçados, as duas notícias de maior repercussão dos últimos dias estão no mesmo lugar e juntos, eles querem beliscar uma parte disso de qualquer jeito. A propósito, eu adorei sua foto no jornal, talvez fosse melhor você largar essa vida de investigadora e tentar a de modelo... se você não for presa, é claro.
- Inspetor chefe, Marco Schultz, finalmente resolveu sair de trás da sua mesa? É um prazer revê-lo, - falei falsamente, engolindo a vontade de respondê-lo como ele merecia.
- Vejo que finalmente tomou vergonha e comprou um uniforme para Sargento Carter. - falei provocando-o
- se você fosse mais observadora, teria reparado na insígnia no ombro da INSPETORA Carter. - me repreendeu.
- e se você não fosse tão ranzinza, teria reparado que foi uma piada. - falei piscando para Macy - Trabalhar comigo, fez bem para ela, se ela não tivesse aprendido uma coisa ou duas comigo ela não teria ganhado essa promoção.
- Então eu com certeza devo checar novamente se essa promoção foi por mérito dela ou se ela chantageou alguém para consegui-la. - falou ele dando um sorriso irônico.
- Vamos parar de conversar e vamos ao que interessa. Me sigam e cuidado onde pisam.
Assentimos com a cabeça e seguimos o Inspetor chefe até onde o corpo estava.
Não importava que essa era a quinta cena de crime, eu não conseguia me acostumar com esse maldito cheiro de excrementos e podridão que o corpo estava exalando, mesmo utilizando uma mistura de ervas aromáticas que Macy me dera para mascarar o odor. Era quase impossível não se sentir nauseada com aquilo. Talvez porque esse cheiro me fazia lembrar dos primeiros anos da primeira guerra, quando eu ainda morava em Sedan, na região das Ardenas, próxima à fronteira com a Bélgica, e meu pai foi obrigado a abandonar nossa pequena indústria têxtil e se juntar ao exército francês, para combater a invasão no grande leste da França. Minha Mãe e eu, fomos obrigadas a abandonar nossas vidas de classe média alta, compartilhar espaço com outras famílias e ajudar com os feridos que chegavam do campo de batalha. O cheiro daquele beco me lembrava exatamente o cheiro que exalava dos hospitais de campanha que eu era obrigada a ajudar. Quando a cidade caiu, nós fugimos para o sul, e nunca mais tive notícias do meu pai, seu corpo nunca foi recuperado.
Todas as cidades em que passamos estavam em situação similar ou pior que as da minha cidade Natal, vivemos desse jeito, pulando de cidade em cidade até chegar em Verdun, onde minha mãe começou a sentir febre, dores na barriga, diarreia e vômitos, e dentro de uma semana ela faleceu, eu acho que eu tinha dezoito anos naquela época, não sei ao certo, no meio da guerra, você não se preocupa com datas, não importava o dia ou mês que estávamos, porque aquele dia poderia ser o último.
Segundo o médico legista que estava analisando o corpo, a hora da morte foi provavelmente as duas da manhã e assim como nos casos anteriores os ferimentos foram feitos enquanto ele ainda estava vivo; e muito provavelmente a vítima viu o assassino pintando aqueles símbolos na parede enquanto o sangue jorrava de seu corpo e a sua vida se esvaia.
Parecia que o assassino recebia instruções de um demônio, executando o mesmo método para profanar o local com aquela podridão e com aquela escrita desconhecida, e então terminar aquele ritual profano com o sacrifício da vítima.
Assim como foi feito com Antoine, meu parceiro, a primeira vítima do assassino. Os símbolos pintados com sangue possuíam o mesmo padrão encontrado perto das outras vítimas, porém mesmo o assassino usando suas mãos para desenhar aquilo, nenhuma digital foi encontrada em nenhuma das cinco cenas de crime.
Os símbolos pareciam de origem oriental, e lembravam muito os caracteres chineses escritos nas fachadas dos prédios de Chinatown, por isso os jornais locais apelidaram ele de Açougueiro de Chinatown, mesmo que ninguém tivesse conseguido identificar ao certo de que língua realmente eram aqueles símbolos.
A vítima era um homem na casa dos 30, tinha um cabelo curto com uma franja grande, que estava emplastrada de sangue e caída sobre seu rosto, escondendo suas feições. Ele estava recostado na parede do beco e sua cabeça caída, com o queixo apoiado no topo do seu esterno, tinha um porte atlético, que dava para perceber apenas devido a seus braços grossos, visto que tudo abaixo de seu esterno fora aberto até sua virilha, seus intestinos estavam para fora e rasgado em algumas partes, escorria um líquido malcheiroso que se misturava ao sangue empossado debaixo dele, os restantes de suas vísceras estavam penduradas abaixo da caixa torácica, porém a análise preliminar do legista falou que não havia nenhum órgão faltando.
Macy estava debruçada sobre o corpo e sua cabeça já estava a todo vapor, analisando e comparando os detalhes daquele caso com os das outras vítimas do açougueiro. Já era a quinta vítima do açougueiro e assim como nas outras vítimas, os cortes possuíam as mesmas características, o corte era bem irregular, parece que tinha sido feito por uma faca que não estava afiada o suficiente para cortar tudo e então no meio do corte, começou a rasgar a pele.
A vítima ainda não tinha sido identificada, precisaríamos mover o corpo e limpar pelo menos parte do sangue do rosto do cadáver, porém para o meu desespero, antes de mover o corpo a polícia precisava catalogar tudo e isso levou quase uma hora, estava se aproximando do meio-dia e a temperatura aumentava, juntamente com o cheiro do cadáver.
Eu, Macy e o Inspetor Schultz, nos afastamos do corpo para que os legistas recolhessem as tripas que saltaram para fora do corpo durante o assassinato e o colocassem no saco que o transportaria para o necrotério. Permanecemos em silêncio, aguardando nossa oportunidade de continuar, até que o Inspetor quebrou o silêncio.
- Onde você vai almoçar hoje, Srta. Carter?
- Em casa, inspetor, quero me limpar antes de pensar em almoçar. -respondeu Macy.
- Eu nem acredito que vocês ainda estejam pensando em almoçar! - falei espantada.
- Se deixássemos de comer a cada corpo que aparecesse em Londres, nós não estaríamos mais vivos. - falou o Inspetor Chefe.
- Eu não vejo a hora disso acabar e voltar para meu trabalho normal, se você quiser, eu arrumo um lugar para você lá Inspetora Carter, sem cadáveres em decomposição, sem chefes insuportáveis, o que me diz, DETETIVE Carter? - Macy somente riu da proposta.
- Você não deveria perder essa oportunidade DETETIVE Carter. Não é todo dia que aparece uma oportunidade de seguir uma carreira de ladra, contrabandista, estelionatária, esqueci de algo Detetive Elisabeth?
Fechei a cara e olhei para ele irritada e ele como sempre pareceu nem ligar. Quando desviei o olhar, ouvi ele gritando para os médicos legistas.
- Esperem aí! Virem ele de bruços.
Fiquei curiosa já que o Inspetor não costumava gritar por qualquer coisa. Macy e eu corremos na direção dele e logo vimos o porquê de sua excitação. As costas do paletó da vítima estava rasgada e coberta de sangue, mas até ali nada de anormal já que o sangue da parede escorrera para lá, porém olhando mais de perto, vimos que havia cortes por toda suas costas.
- Tirem o paletó e a camisa dele - falou o inspetor
Os médicos legistas começaram a tentar despir o cadáver, mas a rigidez do seu corpo, estava tornando o trabalho difícil, as vísceras que haviam colocado para dentro do corpo agora estavam raspando e pingando aquele mesmo líquido escuro e fétido no chão. Estava me dando agonia de ver aquela cena grotesca.
- Puta que o pariu, cortem essa porra logo - falei irritada enquanto começava a me sentir enjoada novamente.
Macy deu uma risadinha e desembainhou o seu punhal, fazendo um gesto com as mãos indicando para que os legistas se afastassem do corpo. Ela então terminou de cortar a camisa e o paletó da vítima, deixando amostra os profundos cortes que preenchiam suas costas.
- Parece que esse aqui, diferente dos outros, foi torturado antes de ser morto. - afirmou o inspetor Schultz
- isso com certeza não fui tortura! - contestei ele confiantemente.
- essas marcas lembram os símbolos pintados na parede - falou Macy - Ele está tentando passar algum tipo de mensagem.
- É isso ai, Futura Inspetora Chefe Carter, - falei provocando o inspetor Schultz - isso é claramente uma mensagem.
- Não me parece ser a mesma linguagem dos símbolos pintadas na parede. - rebateu Schultz.
- com certeza é a mesma linguagem, a diferença é que o sangue com o qual os símbolos foram pintados, escorreram pela parede - respondi com propriedade já que nos últimos meses passei muito tempo em contato com aquela língua, que há muito, estava extinta.
- Conhece essa língua, Srta. Elisabeth? - perguntou Schultz
- Não faço ideia, - Menti - parece ser algo muito antigo - respondi evasiva
Se passaram duas semanas desde a morte do Antoine e pelo jeito, o Açougueiro de Chinatown estava tomando gosto por esses rituais profanos e estava descobrindo cada vez mais sobre a origem da adaga que ele roubou do Antoine já que a cada morte novos caracteres eram acrescentados na cena do crime. Era uma adaga rara, ela era feita com o chifre de algum animal desconhecido, era grossa, levemente curvada, possuía um aspecto amarelado e em sua lateral onde o chifre foi afunilado para poder ser encaixado na empunhadura de bronze, havia orifícios fundos de um amarelo intenso. A empunhadura era decorada com ranhuras que eram amplamente utilizadas na época, porém o que mais chamava a atenção nela era a duas Lápis-lazúli, fixadas no pomo e na base do chifre, próximo à empunhadura, essas pedras azuis eram muito utilizadas naquela época para demonstrar riqueza e poder. Ainda hoje 4 mil anos depois ainda brilhavam como se tivessem acabado de ser polidas.
Eu esperava que ele nunca descobrisse de onde viera a adaga, mas já era tarde, a escrita cuneiforme entalhadas no corpo da vítima era a prova disso. Aquela não era uma linguagem muito conhecida mesmo no meio acadêmico. Ela era rústica e complexa então não havia nada que eu pudesse fazer ali. O melhor a se fazer era deixar que os policiais continuassem a fotografar tudo, para eu poder levar para meu escritório para tentar descobrir se havia um real significado por trás daqueles palavras, já que era impensável que houvesse alguém que fosse fluente nessa linguagem hoje em dia.
Viramos o corpo e começamos a limpar o sangue do seu rosto e quando tiramos o cabelo emplastrado da frente de seu rosto me levantei em choque. Macy logo percebeu que algo estava errado e se levantou logo em seguida e se aproximou de mim e me perguntou ao pé do ouvido qual era a minha relação com a vítima, já que era nítido pelo meu rosto pálido e meu olhar fixo no rosto da vítima que eu o conhecia.
Eu não podia revelar o que eu sabia ali na frente do Inspetor chefe, então Macy me agarrou pela cintura e avisou o inspetor que eu não estava me sentindo bem.
De longe consegui ouvir o desgraçado caçoando da minha cara. Fingi ainda passar mal e fui escorando na Macy até algum lugar onde poderíamos conversar sem interrupções.
- E aí? Quem era ele? - perguntou Macy.
- Eu não sabia o seu nome de verdade, mas Antoine e eu o chamávamos ele de "Petit", devido ao nome do seu navio e também por ele ser um tanto corpulento, - falei dando um triste sorriso - Le Petit Requin era o nome do pequeno navio de carga dele, que geralmente saía do rio Tâmisa, até o continente. Contudo, se nós o pagássemos o suficiente, ele até cruzaria o oceano para nos levar ou transportar nossas mercadorias...
- Primeiro o Antoine, agora ele, coincidência? - indagou Macy
- Eu não acredito que seja, - falei - mas os problemas são as outras vítimas, onde eles se encaixam nessa história?
- Você viu seus rostos também, não consegue lembrar de nenhum deles?
- Não, não consigo reconhecer nenhum deles! Talvez Antoine estivesse metido em algo.
- Antoine? Agindo pelas suas costas? Sem chances!
- Macy, se essas mortes estiverem conectadas, essa é a única explicação.
- Ele nem amarrava os sapatos sem ter a sua permissão, é impensável que seja isso.
- Sendo isso ou não, precisamos investigar, vou precisar que você pegue as fichas das outras vítimas, nós deixamos passar algo.
- Pode deixar, nós vamos para o necrotério, para analisar melhor o corpo, enquanto os legistas preparam ele, eu dou um jeito nisso.
- Vamos voltar agora, o Inspetor Chefe já deve estar bravo com nossa demora, vai contar que conhecia ele? - perguntou Macy
- Impossível, não posso ser ligada a ele de jeito nenhum.
- Não tem nada a ver, para ele poder atracar em algum porto em Londres, ele com certeza tem autorização para isso, quem pode provar que os negócios que você fez com ele, são ilegais? - falou ela tentando me tranquilizar - faz quanto tempo desde a última vez que você encontrou com ele pessoalmente?
- Esse é o motivo para eu estar tão preocupada, a última vez que encontrei com ele foi dois dias atrás... e se o maldito jornalista estivesse em um ângulo um pouco melhor, ele teria conseguido uma foto nossa, juntos.
Macy leva as mãos na cabeça, incrédula.
- Então é realmente você na foto, cacete Lisa, quando você ficou tão desleixada? - falou Macy claramente alterada
- Eu não tive escolha Macy, o objeto era valioso demais, alguém tinha que ir lá pegar. - protestei
- E por pouco não é você naquele beco, você nunca deveria ter ido lá sozinha.
- dê graças a deus que fui sozinha, se não, era a NOSSA foto no jornal de hoje.
- Não importa, eles só têm uma foto borrada que não prova nada. - falou ela ainda irritada.
- Vamos esquecer isso, ficamos tempo demais aqui, vão acabar desconfiando de algo - falei, indo em direção ao beco.
Macy deu alguns passos apressados em minha direção para me alcançar e em seguida perguntou; já com o seu calmo tom de voz habitual:
- Você a pegou pelo menos?
- É claro que peguei - falei me gabando - e ela é ainda mais bonita que a azul.
CONTINUA...
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