Capítulo 02: Os muros do castelo
O chão estava branco e coberto pela densa neve, deixávamos pegadas, marcando nossa rota até a entrada do feudo. Altos e acolhedores muros se erguiam. No topo das torres, arqueiros e lanceiros apontavam os gumes de suas armas para qualquer um que se aproximasse do titânico portão de metal dourado. Era uma grande fortaleza, de fato, parecia muito segura! Nenhum inimigo conseguiria ultrapassar aqueles muros tão bem construídos dos quais era impossível ver as linhas de junção na construção. Provavelmente, aquela parede tinha se erguido de forma única como um passe de mágica.
Identificamo-nos, Mama Maja teve que mostrar o seu selo de Rynbelech para que nos deixassem passar. Nossas caravanas, os sobreviventes da Casa Rynbelech, foram deixados por ali, às margens do muro, junto a outras carroças estacionadas. Eu sabia que só haveria humanos ali, os vampiros estavam dentro do castelo.
Deram-nos um pedaço de terra, para montarmos o acampamento. Duas carroças lotadas de crianças, uma grávida, alguns homens. Foi tudo o que restou de nós. As outras caravanas nos ofereceram do pouco que tinham, e os homens mais fortes vieram para montar barracas. Ciganos podem confiar em ciganos. A Casa Taseldgar estava instalada por lá, eles são célebres ocultistas.
Mama Maja me mandou junto com outras duas crianças para ajudar a carregar cobertores, para cobrir o chão da tenda na hora de dormir. Não cheguei a entrar no acampamento Taseldgar, mas fiquei especialmente impressionada com a organização deles. Uma mulher estava fazendo uma sopa de casca de batata e pediu para eu levar para as crianças. O cheiro dava ainda mais fome!
Thalassa cansou-se depressa e eu a levei para uma carroça. Ela ficaria na tenda com quatro crianças e uma mulher, que tinham sobrevivido. Sentei-me ao lado dela para descansar as pernas e a cobri com o cobertor que eu tinha guardado para mim.
-- Vassily? – Mama Maja me chamou, em pé perto da carroça, acompanhada com minhas irmãs de alma e o soldado Connor, que ainda estava de serviço.
-- Sim, Mama? – Olhei por cima do ombro.
-- Você vem comigo. – Mama Maja chamou-se com a mão cheia de pulseiras de contas.
-- Eu já volto. – Avisei para Thalassa e dei um sorriso, andando até Mama Majaris.
-- Despeça-se direito de sua amiga, Vassily. Você vai ao castelo comigo.
-- Eu vou? – Abri bem os olhos surpresa.
Mama Majaris mandou-me um sorriso paciente:
-- Minhas filhas precisarão de uma dama de companhia no castelo e eu quero que seja você, não confiaria o serviço a mais ninguém.
-- Mas e Thalassa? – Perguntei receosa. Eu não queria recusar uma ordem de Mama Majaris, mas Thalassa estava para dar luz ao nenê e ela não tinha mais ninguém.
-- Callis cuidará dela. Apresse-se que em alguns minutos será dia. – Mama Majaris disse.
Suspirei e voltei para Thalassa, para me despedir. Ela havia escutado tudo e sorriu, contente por mim. Eu queria leva-la, mas não teria essa chance.
-- Tentarei vir sempre ao acampamento.
-- Prometa que virá ver Connor quando ele nascer. – Thalassa segurou a minha mão e colocou em sua barriga.
-- Mande uma carta para me avisar, se nascer antes de eu conseguir voltar.
-- Combinado.
Abraçamos-nos e eu a deixei aos cuidados da caravana. O soldado Connor nos acompanhou – Mama Majaris, eu e minhas irmãs – por mais uma caminhada longa por dentro do feudo.
Todos pareciam bem instalados e a estrutura de suas casas era de acordo com sua importância para a sociedade, por exemplo, depois das margens do muro, havia uma mureta de pedra dividindo um acampamento de soldados, duas bandeiras estavam dispostas: Lunysum e Soretrat. Mais para dentro, em instalações bem melhores que as anteriores, as bandeiras de Bawarrod, Blonard e Zegrath. Mesmo assim, mesmo que estivessem mais para dentro, eles ainda não estavam no centro da propriedade, só nas margens, como uma visita indesejada para a qual o proprietário estende um cobertor na sala de estar, não prepara nem mesmo o quarto de hóspedes.
Logo depois dos humanos dos outros reinados, a ampla propriedade Riezdra: as terras por ali eram vermelhas e boas para a plantação, largas, grandiosas. Tinha bastante coisa sendo cultivada na lavoura. Outra área demarcava a criação dos animais, cavalos, gado, porcos, vários tipos de aves. Havia até uma vinícola própria! Fiquei besta! Pelo visto, ali ainda tinha muita fartura e o feudo vivenciava prosperidade. Muito diferente do que a realidade fora dos muros do Império! Embora os moradores estivessem curiosos com nossa passagem, a neve não pareceu agradar. Alguns fechavam portas e janelas com um estrondo.
-- Ótima recepção. – Aradya revirou os olhos dourados.
-- Não leve para o lado pessoal, eles só estão... – Connor ergueu as sobrancelhas marrons e grossas, escolhendo as palavras. -- Chateados.
-- Amanhã, quando a tempestade dissipar, tudo ficará bem. – Mama Maja disse abanando a mão. -- Podemos criar outros efeitos no clima que certamente ajudarão as plantações. Que tal morangos no verão?
-- Morangos? Soa ótimo. – Connor sorriu e olhou para Aradya. -- Podem mesmo fazer isso?
-- A natureza é nossa aliada, não nossa inimiga. – Aradya replicou, com um sorriso nascendo em seus lábios, os quais Connor não conseguia deixar de encarar.
-- Ah, sim, nossa aliada! – Para atrapalhar, Annaju a empurrou e tomou o lugar dela.
Os olhos de Connor seguiram Aradya, quando ela quase escorregou pela ponte em que fazíamos a travessia pelo riacho. Ele a segurou, pela cintura, trazendo-a de forma protetora para o corpo.
-- Opa, cuidado, aí.
-- Ah... É... – Aradya ficou sem graça. Foi uma das únicas vezes que a vi desconcertada, sem saber como agir, ela estava com as mãos erguidas, os peitos bem empinados e quase vesga, olhando para Connor bem de perto.
-- Aradya. – Mama Maja logo interrompeu, ciumenta com sua filha, os dois imediatamente se afastaram. -- Ande com mais cautela. Vamos.
Annaju segurou a risada com as mãos e eu fingi que não vi nada aparecer entre as pernas de Connor. Aradya apressou os passos, ajeitando os cabelos e emparelhou com Mama Maja. Continuamos caminhando.
Passamos os colonos e chegamos até uma ponte erguida, que ligava duas montanhas, divididas por uma gigantesca cachoeira. Fiquei com um pouco de medo de atravessar, era fina, um pouco bamba, tive pavor de cair e procurei não olhar muito para baixo. Meu corpo até suava sozinho de imaginar a queda. Prendi a respiração, lembrando das bruxas, aquela pele verde horrível, suas risadas. De onde elas vieram? Uma coisa a se saber sobe bruxas: elas sempre preferem comer o coração de suas vítimas, vampiros ou humanos, deve ter algum significado para elas, senão, por que comeriam apenas o coração?
-- Vassily? – Mama Maja me chamou, soltei a grade de ferro e apressei para alcança-las.
Atravessamos a ponte e chegamos a um segundo forte, uma segunda murada. Agora sim, o castelo! Fica no fundo do muro em forma de "u", encostado em um grande penhasco, rodeado de montanhas.
-- Uau! – Annaju quase desmaiou maravilhada com tanto ouro disposto nas paredes e estávamos apenas na entrada do forte. -- Diga que não gostou, Aradya!
Mesmo encarando aquela magnitude toda do Castelo Riezdra, a forma com que ele se erguia cheio de torres pontudas entre as montanhas, protegido por um grande vale e uma bonita costa de pinheiros, não pude deixar de conter os pensamentos: as bruxas vinham voando, de que adiantava muros altos?
-- Ah, sim! Estou impressionada por saber que são paredes que Vossa Majestade Imperial constrói com nossos brincos. – Aradya colocou uma mão na cintura e deu uma ventada debochada. Nesse ponto, tenho que concordar com ela.
-- Aradya, Annaju, shhh. – Mama Maja pediu por educação, colocando o dedo na frente da boca.
Fiquei quieta, mas notei o Soldado Connor balançando a cabeça, dando uma olhada em Aradya como que impressionado por sua língua afiada.
Atravessamos o segundo portão de metal e adentramos um primeiro pátio de formato retangular, cercado de casas geminadas e de dois andares. Ali mais perto dos vampiros ficavam apenas humanos que serviam diretamente os castelos, como damas de companhia, senhores de companhia, os soldados de segurança mais próximos à realeza e cozinheiros, lavadeiras, essas coisas. As bandeiras eram apenas da Casa Riezdra. Havia carruagens dos nobres da realeza que já estavam presentes no castelo, seus cocheiros e cavalos. Únicos objetos que não eram verde e dourados.
Muitos soldados ladeavam a escadaria lateral que dava acesso ao segundo pátio, bem maior, de dois andares, com um bonito e gigante jardim na primeira parte, cheio de estátuas retratando os nobres do Conselho. Até me surpreendi, vendo uma de Mama Majaris, de vestido, dançando com um pandeiro. Que diferente! Acho que Mama Majaris é mesmo respeitada, o que chega a ser estranho! Ela vive como cigana, sem muito luxo, toma banho no rio e usa o banheiro cavando na terra como todos nós.
Não pude ficar muito tempo contemplando as estátuas, mas vi bem a do centro, a do Imperador Tsezar. Ele tem o rosto bem oval, é alto, forte e os cabelos lisos jogados para trás com o volume de uma juba de leão.
Subimos um segundo lance de escadas, dessa vez central e chegamos ao último portão, que ao abrir, revelou a segunda parte do pátio, elevada. Com muitas colunas helênicas que levavam à muitas passagens, para outras partes do castelo. Encarei um gigantesco portão dourado bem na nossa frente, com puxadores de ouro e o brasão Riezdra feito de ouro e pedras preciosas.
Um vampiro de manto azul escuro comprido e pesado, com bordados dourados, estava esperando por nós. Ele era bem alto, de cabelos curtos castanhos escuros e olhos incrivelmente alaranjados como o fogo.
-- Lady Rynbelech. – O homem de verde ergue as mãos e dá um sorriso, recepcionando-a. -- Vossa Majestade Imperial aguarda Vossa Graça.
-- Chanceler Hanschen! – Mama Majaris logo abriu um sorriso e se aproximou do homem, que tomou as mãos dela envolvendo-as com as suas. Os dedos grosseiros de Mama Majaris pareciam até delicados envolvidos pelas mãos do Chanceler. -- É um prazer revê-lo.
-- Digo o mesmo. – Ele sorriu e depois, ergueu os olhos para nós. -- Todos os membros do Conselho estavam esperando a senhora.
-- Então não vamos perder mais tempo! – Mama Majaris se adiantou, então, pareceu lembrar-se de nós e voltou, descendo as escadas. -- Filhas, fiquem aqui, me esperem. Soldado, seria muito pedir que ficasse com elas?
-- Não, claro que não. – Connor dá um sorriso meio sem saber como recusar. Está visível em seu rosto o quanto ele está cansado e exausto.
-- Ótimo. – Mama Majaris passa por nós e sobe os degraus da escada. -- Chanceler.
-- Depois da senhora. – Cordialmente ele estende a mão, dando passagem a ela.
Mama Majaris atravessa para dentro do castelo e o Chanceler a segue. Os portões de ouro são deixados abertos. Ficamos apenas nós três e o Soldado Connor, com sua entediante missão. Ele parecia tão cansado que fiquei com pena de vê-lo ali, era nítido como ele estava se sentindo fraco, tremendo de frio tanto quanto eu e com os olhos escurecidos, de brilho fracos.
Aradya também se sentia cansada e foi a primeira a desabar sentando-se na escada. Notei Connor dando um sobressalto, como que não acostumado com isso, ele até fez menção de puxar a capa para ela sentar, mas Aradya nem notou. Não fomos educadas para esperar os rapazes nos cortejarem, somos ciganas, dividimos as tarefas, nossas mãos descascam batatas e as dos garotos, despelam animais. Annaju sentou-se em seguida e eu a acompanhei. A única coisa que me impedia de morrer de frio eram as tochas de fogo que iluminavam o caminho.
O silêncio ficou um tempo entre nós, Connor aproximou-se de uns arbustos, pegou uma planta e levou até Aradya. A flor era pequena e cor-de-rosa, estava congelada.
-- Por favor, aceite, como presente desta terra. – Ele entrega a flor, com um sorriso bonitinho no rosto.
Annaju troca um olhar cúmplice comigo, eu mordo a boca, analisando Aradya, que sorri tímida e pega a flor.
-- Obrigada, meu senhor.
-- Aaaai! – Logo ouvimos uma voz, um barulho seco nos arbustos, como alguém caindo perto de nós. Connor coloca a mão em sua espada, mas por trás dos arbustos surge um rapaz, só de calça, segurando sua camisa, seus olhos brancos reluzem com a escuridão da noite. Os cabelos castanhos claros desgredenhados e a barba nascendo. -- Você me empurrou, Irina?
-- Você estava demorando para descer, Adam! E logo irá amanhecer! Pretende passar a noite aqui? Está maluco? – Na janela, uma garota de cabelos ruivos e apenas vestindo camisola aparece. Ela tem os cabelos compridos e lisos, olhos brilhantes e brancos. – Nos vemos amanhã, meu amor! – E com pressa, ela fecha a janela, sem nem perceber que estamos sentadas na escada.
-- Ai, ai. – Adam, o rapaz que fugiu pela janela, ri e coloca sua camisa. Como ele é um vampiro a neve nem o afeta, é diferente com vampiros: o floco de neve bate na pele deles, mas não derrete.
-- Adam! – Connor marcha afundando os pés na neve e puxa o rapaz pelo baço. -- O que você está fazendo? A Princesa Irina?!
-- Aquela é a princesa? – Annaju sussurra surpresa para Aradya, eu que estou bem perto escuto.
-- Não é nada disso o que você está pensando! – Adam ergue os ombros enrijecidos, como um leopardo assustado.
-- Não estou pensando nada! Não quero nem pensar no assunto! – Connor puxa o rapaz pelo braço com violência, o rapaz acaba acompanhando, com um sorriso de pânico no rosto. -- Vamos para casa, já chega de suas confusões por hoje! Andersen não já disse para você ficar longe da princesa?
-- E quem ele é para falar isso? Esses dias eu o vi saindo do quarto das gêmeas de Blonard. – Adam retruca afiado, revirando os olhos.
-- Achei que isso fosse papel do Yves. – Connor arfa.
-- Já te falei que também vi Andersen com Malena de Bawarrod? Ah e tem aquela loirinha, Enola, de Soretrat que anda cercando nosso acampamento! – Adam continua se justificando.
-- Escute aqui! – Connor vira-se bruscamente com o dedo em riste no nariz de Adam, que dá até um passo para trás. -- Não me importa a vida amorosa de Andersen, mas você está procurando por problemas! A princesa Irina! Você perdeu o bom-senso, Adam!
-- Por que você está tão nervoso? – Adam pergunta de forma inocente, como se tivesse algo errado em Connor. Talvez, ele seja uma pessoa muito calma no dia a dia. -- Gosto dela e ela de mim.
-- Eu vou levar você para casa agora mesmo! – Connor segura novamente no braço de Adam com brusquidão e se aproxima de nós. -- Senhoritas, sinto muito, mas não poderei acompanhá-las.
-- Não tem problema, Connor, obrigada. – Aradya ergue a mão, dispensando o soldado. – Cuidar da família é importante.
-- Agradeço a compreensão, senhorita. – Connor toma a mão de Aradya e deposita um beijo.
-- E depois fala de mim. – Adam acrescenta.
Connor vira-se para ele revoltado e o puxa para longe.
-- Uau, irmã. Tem minha aprovação, Connor parece muito legal. – Annaju dá uma ombrada em Aradya. – Não é, Vassily?
-- Mama Maja não pareceu aprovar. – Ergo a sobrancelha preocupada. Sei que Mama é muito protetora e Aradya é sangue do seu sangue.
-- Acho que ela ficará bem ocupada com aquele Chanceler antes de perceber qualquer coisa rolando entre Connor e Aradya! – Annaju ri.
-- Calma, meninas que não está rolando nada. – Aradya nega, mas olha para a sua flor congelada, soltando um suspiro apaixonado.
Uma janela abre de repente. Um rapaz de cabelos pretos e olhos brancos coloca as pernas para fora.
-- Mais um? – Annaju diz.
-- Pelo visto essa nobreza sabe se divertir. – Aradya ergue as sobrancelhas.
Logo que o rapaz se prepara para pular, uma garota de cabelos bem claros como o trigo o abraça por traz, mordendo sua orelha.
-- Fique mais um pouquinho, Yves.
-- Eu não, Amy. Da outra vez que te tirei para dançar, seu irmão quase me matou, imagine se ele me pega por cima de você? – O rapaz nega, mesmo sorrindo e se esfregando com ela.
-- Hayden não tem como saber de nada, não se preocupe.
-- Senhorita, você é encrenca. – Yves responde, dando um beijo nos lábios da menina e desce da janela.
Amy fecha a janela. Yves cai em pé e ajeita suas roupas. Ele nos percebe ali sentadas, mas em vez de passar pedindo desculpas, coloca um sorriso galante no rosto.
-- Senhoritas, não fiquem com ciúmes, aqui tem para todas. – E curva a cabeça nos cumprimentando.
-- Oi, muito prazer. – Annaju dá tchauzinho, cumprimentando.
-- Annaju! – Aradya dá um tapa na mão dela.
-- Calma, mana, só estou cumprimentando tamanha gentileza! – Annaju revira os olhos.
Yves acena e se afasta de nós. Ele desce pelas escadarias laterais, passando por três meninas de mantos com capuz rosa e bordados prateados, com uma abelha nas costas.
-- Senhoritas!
-- Senhor. – Duas o respondem.
-- Yves? – A terceira, derruba o capuz, revelando seus cabelos castanhos escuros compridos e ondulados, e olhos bem brancos, com uma expressão assustada. -- Onde está indo essa hora?
-- Daphne?! Eu que te pergunto, irmã, onde a senhorita estava até essa hora? – Yves coloca as mãos na cintura. Noto que ele fez uma pergunta intimidando-a só para não ter que responder com quem estava.
-- O que acha, Daphne? Você é tão burrinha! Claro que a escória do seu irmão estava com alguma donzela desonrada! – Uma das meninas diz, derrubando o capuz, ela é morena, de pele mais escura e cabelos ondulados e pretos. Seu rosto é belíssimo, de olhos vermelhos e formato oval, com lábios finos.
-- Oh, Yves! – Daphne coloca as mãos na boca, assustada.
-- Esse aí, não presta. - A terceira coloca a mão na cintura. Ela é a única que não tira o capuz, mas seus cabelos bem longos, lisos e claros, balançam com o vento.
-- Ciúme, Enola? Tudo isso é saudades?
-- Argh, nem estou interessada! – A loira cruza os braços.
-- Para sua informação, Enola já te superou, traste, ela está sendo cortejada pelo Sucessor de Lunysum. – A de pele mais escura passa o braço com Enola e a puxa, na direção das escadas para chegar ao pátio em que estamos.
-- Sim, claro, estou vendo bem, Camelia, por isso são vocês que estão subindo do acampamento dos soldados, não é? – Yves dá uma larga risada e se distancia delas. -- Você é boa demais para se misturar com elas, Daph!
-- Disse o irmão que desonra a família! – Camelia retruca. – Vamos Daphne, fique conosco.
Daphne suspira, chateada, ela demora um pouco pensando antes de tomar sua decisão, coloca o capuz na cabeça e passa por Yves, seguindo suas amigas. Yves derruba os ombros em derrota e continua seu caminho, entrando escondido pela cozinha do castelo.
As três meninas sobem as escadarias, entrando no pátio.
-- Por que você disse para Yves que eu fui atrás de Andersen? Agora ele não vai me deixar em paz com isso, ficarei com má-fama. – A loira reclama, segurando o braço da amiga.
-- Talvez você não ficasse com má-fama se não parasse de correr atrás dele! – Camelia revira os olhos.
-- Espera! O Andersen mora no castelo? – Daphne apressa os passos.
-- Você é tão burra! – Camelia abana a mão. -- Só disse aquilo para Yves não saber que fomos ao acampamento dos ciganos tirar a sorte.
-- E o que a cigana disse? – Daphne pergunta. -- Você vai mesmo se casar com Príncipe Vladimir?
-- Nem preciso de cigana para saber disso! Se aquela maldita Kirsten Bawarrod acha que vai ser a única a dar um lance pela coroa, ela está muito enganada! – E ela solta uma risada maligna. -- Nasci para ser rainha!
As três param diante de nós. Percebendo-nos somente agora. Seus olhos brilhantes analisam nossas roupas velhas e sujas, em todos os detalhes. É unânime: elas torcem as bocas e fazem careta de nojo.
-- Quem são vocês, ratas? Abram caminho para Camelia de Soretrat! - A morena abre os braços, como se separasse os mares.
Eu me levanto na hora, mas Annaju segura no meu pulso e me coloca sentada novamente.
-- Dá para passar por ali, daquele lado. - Annaju aponta, para o lado de Aradya, onde metade da escada está liberada para elas passarem.
-- Quero subir por este lado, que eu gosto mais. - Camelia exige. Ela bate as mãos, como se fôssemos pombos que ela quer espantar. -- Xô, xô! Antes que eu chame os guardas.
-- Não. - Aradya e Annaju respondem juntas.
Sinto os olhos das garotas em mim. Sou a única humana e estou apavorada. Se elas quiserem descontar a raiva em mim, podem quebrar o meu pescoço em segundos. Seguro na mão de Annaju, para ela me soltar e fico em pé, saindo da escada e curvando o meu corpo.
-- Por favor, senhora, passe por aqui. - Digo.
-- Pelo menos uma de vocês sabe bem o lugar a que pertence. - Camelia cospe aos meus pés.
-- Você cuspiu na gente, cadela? - Aradya fica em pé.
-- Cospe de novo se você tiver coragem, sua maldita! - Annaju também, já com a mão direita fechada e em chamas.
-- Desculpe, quem são vocês mesmo? - Enola, a loira, cruza os braços. -- Nós somos nobres e vocês, um saco de lixo. Usem isso conosco e enfrentarão a forca!
-- Não podemos só passar para dentro do castelo? - Daphne simplifica.
-- O quê? Acha que temos medo de vocês por estarem revestidas de ouro? - Annaju não recua.
-- Pois deveria! - Enola ergue as mãos, uma energia rosa-choque as envolve e ergue-se, como uma arma de energia psíquica.
Dou um passo para trás, aterrorizada.
-- Aradya, Annaju. - Escuto a voz de Mama Majaris. Olho para o alto da escada e a vejo ao lado de dois guardas.
Annaju desfaz a magia do fogo em sua mão.
-- Mama? - Aradya olha por cima do ombro, para sua mãe.
Mama Majaris está com os cabelos presos como os de uma nobre, trocou o seu vestido de trapos por um vestido azul celeste com um pano transparente vermelho fechado nos seios, na altura dos cotovelos, dois braceletes feitos de ouro, com o símbolo de Rynbelech desenhados no metal. O inesperado acontece: Camelia, Enola e Daphne se ajoelham imediatamente.
-- Lady Rynbelech. - Elas dizem, reverenciando.
-- Hm, pelo menos vocês sabem a que lugar pertencem. - Mama Majaris alfineta, com uma voz firme e uma postura que eu nunca tinha visto nela assumir. -- Venham, minhas filhas, Vossa Alteza Imperial nos ofereceu aposentos dento do castelo.
-- Quem são as ratas agora? - Annaju cospe aos joelhos das meninas e sobe as escadas contente.
Aradya a segue, segurando a risada comprimindo os lábios. Quando ela chega lá em cima, pergunta:
-- Eu vou usar um vestido desses também, Mama?
-- Claro, querida. Os melhores. Para vocês três. - Mama Maja derruba os olhos em mim. -- Vassily.
-- Sim, mama. - Subo as escadas.
Quando chego ao topo, olho para as três meninas, elas estão sussurrando entre si alguma coisa que não consigo compreender.
(Continua no próximo)
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